
Processamento Auditivo Central nas Crianças
O Processamento Auditivo Central (PAC) diz respeito ao percurso que o som faz desde a entrada da informação auditiva (ouvido) até à chegada da mesma ao Sistema nervoso Central, para aí ser analisada e interpretada.
Ao longo deste caminho ocorrem diferentes processos que são responsáveis pelo tratamento do som sobre diferentes aspetos (localização sonora, memória, discriminação, duração, frequência, intensidade, reconhecimento, integração ou separação binaural, entre outros) e que são fundamentais para se conseguir processar a informação auditiva de forma adequada e, assim, dar significado ao que ouvimos.
Perturbação do Processamento Auditivo (PPA)
A perturbação do processamento auditivo central é uma disfunção auditiva que surge pela falta de estímulos sonoros durante a infância. O individuo tem dificuldade em perceber, memorizar ou compreender mensagens e informações que ouve.
Estas alterações variam de grau leve a severo e podem ocorrer em qualquer altura do desenvolvimento, desde crianças aos idosos. Problemas no Processamento auditivo Central podem afetar as capacidades escolares, musicais, de comunicação e sócio-emocionais.
Os estudos indicam que 2 a 5% das crianças em idade escolar apresentam alterações no processamento auditivo, nos adultos este valor é muito variável devido aos critérios de exclusão.
A maioria das crianças com esta perturbação apresentam dificuldades em:
- Dificuldade em manter a atenção a estímulos sonoros;
- Dificuldade em compreender o discurso em ambiente ruidoso;
- Solicitação para repetição de informações auditivas;
- Respostas inconsistentes ou inapropriadas;
- Respostas orais retardadas durante comunicação oral;
- Comportamento agitado;
- Distração frequente;
- Dificuldade em seguir instruções orais;
- Dificuldade em localizar o som no espaço;
- Redução das competências musicais;
- Problemas de aprendizagem.

Avaliação
A maioria das avaliações auditivas realizadas (audiograma) tem como objetivo aferir as condições anatomofisiológicas do aparelho auditivo, assim como a chegada ou não do sinal acústico ao SNC.
No entanto, normalmente, estes exames não avaliam os processos cognitivos inerentes à análise do sinal acústico de forma a ser posteriormente descodificado.
Assim, a avaliação auditiva anatómica e fisiológica tradicional (audiogramas, potenciais evocados) por si só não traduz o estado das competências ao nível do processamento auditivo central.
Quando o Terapeuta da Fala suspeita de uma Perturbação do Processamento Auditivo Central, encaminha o paciente para uma avaliação do PAC que é realizada por um audiologista.
Essa avaliação consiste na aplicação de um conjunto de testes auditivos que irão avaliar diversas competências auditivas. Se for confirmada esta perturbação, o Terapeuta da Fala faz a intervenção. No entanto, só Terapeutas da Fala com essa especialização é que podem fazer treino auditivo, como é o meu caso.
Sinais de alerta
Parece não ouvir bem;
Incomoda-se com ruídos ou sons intensos;
Trocas ou distorções na fala como por exemplo no som /r/ ou /l/;
É muito distraída ou desatenta;
Fala muito “hã”, “o quê?” ou “não percebi”;
Dificuldade em memorizar músicas;
Não consegue lembrar-se das instruções recebidas auditivamente;
Tem dificuldade para perceber o que está a ser dito em ambientes ruidosos ou com muitas pessoas a falarem ao mesmo tempo;
Deixa o volume da televisão muito alto;
Dificuldade de localizar o som;
Tem dificuldade em contar um acontecimento vivido por si ou contar uma história;
Dificuldade em transmitir recados;
Troca muitas letras na escrita;
Dificuldade na leitura fluente de um texto;
Dificuldade em reconhecer a silaba tónica das palavras.